segunda-feira, 30 de junho de 2008

Passo-preto

a letra no papel
a letra torta
o papel

a tinta
a tinta na caneta
preta

o bico
o bico da pena
ponta

a pluma
paina que paira
voa

a ave
dor que magoa
canta

'Assum preto véve sorto
mas não pode avoá
mil veiz a sina
de uma gaiola
desde que o céu, ai
pudesse oiá'

a letra
mais triste
real

crueldade
atroz
banal

'Furaram os óio
do assum-preto
pra ele assim, ai
canta mió'

seguimos
soltos
cantando

Gonzagão, o Véio Lua, se foi e nos deixou esta canção.
É a obra mais linda, triste e cruel que eu conheço.
Brasileira, remete à exploração de negros e índios, que perdura...
A foto é do amigo artista Alexandre Vilas Boas, para quem enviei a arte-postal. Mais em: http://blackbirdproject.blogspot.com/

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