quinta-feira, 24 de junho de 2010

Verdade


Uma vez meu amigo Yaguarê
a propósito de uma certa professora
que insistia em que ele tirasse a camisa
pra contar histórias para os alunos (?!)
disse assim:

_ Eu não sou o índio que a senhora quer. Eu sou o índio que EU SOU.
E foi-se embora.

Volta e meia digo também.
E recomendo.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Serenata


É normal que as coisas saiam do controle
É normal, tento me convencer, que as coisas saiam do controle
Senão o que explicaria
a peça no forno entortar
a agulha furar o dedo
o bolo desandar...

Todas as pequeninas coisas
que parecem ter vida própria
(artes do fogo, do ar...)
lembram a fantasia infantil:
_Quando a gente está dormindo, tudo conversa,
tudo se move e brinca e dá risada,
o fogão, os brinquedos, as xícaras e a prateleira.
Pessoinhas saem dos livros e passeiam pela casa,
que nem naquele filme do museu, sabe?

Dito assim, parecem artes noturnas (coisa de Saci)
sumirem agulhas, dedais,
mudarem-se os livros das estantes
e pra debaixo da cama ir parar
o anel que tu me destes.

Escapam do frágil controle que fingimos ter
as auroras, os vendavais,
as teias prateadas das aranhas
e a lua nova que teima em brilhar
trazendo a música que invade os dormitórios.

Como controlar
a mão do poeta que procura um verso
a voz de mulher, que é capaz de criar mundos no mundo,
o alarido dos amigos que se encontram?

Que bom que as coisas saem do controle,
ainda bem!

A expressão em itálico refere-se a canção "Livros", de Caetano Veloso.
O bordado mágico da foto foi feito pela Trudy, índia colombiana com nome alemão!