quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Irmão

No assobio do pinhé
tem um alerta
e um chamado

Grito estridente
estremece
arrepia

Quem no solo
se vê
só, sem defesa

Vôo alto, leve,
correntes de ar quente
prenúncio de tempestade

Passarinhos ressabiados
ninhos a proteger
do predador e da chuva

Asas abertas
cabeça ereta
vôo rasante: a presa

O bico cortante,
na garra, o bicho
morto

Tufos de penas eriçadas
desaba a tempestade
mais nenhum pio

Carrapateiro, pequena ave
sinal na língua do pajé
cocar de pena rajada

Bela brutalidade
força da natureza
recordação

Pinhé grita,
respondo:
Aqui!

domingo, 7 de dezembro de 2008

Sina

Voz de mulher
de mãe
tambor na boca
doçura e força

Vozes confortando
a tragédia
Vozes se unindo
contra o caos

Organizando,
se armando
e amando
o ofício

Mulheres brabas
e gentis
Eleitas pelo céu
abençoadas com pulmões
e ar, entoando

Trazendo a paz
pra dentro de nós
Vozes em busca
de sentido...
sina de cantador

Vozes que tocam
Toques que voam
Vôo que chega
nos corações

Mulheres
quem duvida
do vosso poder?

No dia 06 de dezembro, num esforço para ajudar as vítimas das enchentes em Santa Catarina, realizou-se no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, a Virada Cultural de Solidariedade, onde artistas se apresentaram e os ingressos eram doações para as comunidades atingidas. Assisti aos shows de Ceumar e Badi Assad e me atingiu em cheio a força destas duas mulheres. Aline, obrigada pela companhia.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Guarani


Quando o vento vem rodar
Nas palhas, penas e folhas
Quando vem, carinho ligeiro
grudar poeira vermelha
nos cabelos, penas, pele
Com gaviões e urubus

a gente voa

É gente e voa


Quando o cheiro da chuva

levanta o cheiro da terra

embriaga o capinzal

Pés-de-conta pingam
brota água do barranco
a gente chapinha
Vira peixe e brilha


Se o vendaval seco bole

Se a chuva acende o brincar

O fogo, então, quem dirá?


Tupana alegre, se junta

com o velho e sábio avô

Ao pé do fogo cirandam

voz, histórias e lembranças

além do tempo e lugar


Tatá, o fogo, conhece

o que há prá conhecer

A gente acende por dentro

escuta a fala do Tempo

É brasa na escuridão

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Aos poucos


pérolas
que as quero
de volta no mar

cantos
que os desejo
sem nenhum pudor

rotas
que as invento
para sempre achar

cores
emprestadas tomo
só para compor

dúvida
tiro do bolso
pra me assegurar

dose
de atitude certa
para perceber

auto
de moléstia finda
pra revisitar

bonde
de história gasta
pra reconstruir

margem
de erro, mote
pra me distrair

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Vixe !



omáximo
assim juntinho
parece um orixá


as palavras
paisagens sonoras
em x


desenham-se
arcaicas
ancestrais


xamã
Xangô
Oxum


herança de preto
índio
caboco: mameluco


xaréu
xerém
oxente!


assim dizer
transporta
pro sertão


pras grotas
despenhadeiro
pro olho d'água, milagre


peixe
enxada
feixe


roçado novo
lenha na cabeça
sobre o pano enrodilhado


enxame
xará
examina


estrago que fez
abelha de ferrão brabo
doído que só



xixi
exame
Oxalá


me guarde
me leve
conhecer cidade grande


omáximo!




segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Faxina


Descobrindo os cantos escuros
tirando a poeira acumulada
no correr dos dias

Esfregando até limpar
tudo o que precisa
de água e cuidado

Abrindo a casa
pra Dona Maria entrar
aquela que zela

Colocando flor no vaso
vaso no canto
pedra em redor

Doando tudo
o que já não servia
e esperava novo dono

Preparando a casa
a comida, o aconchego
com carinho redobrado

Pra vencer o tempo
que corrói as coisas
pra abrir espaço

Que o novo chega
com esperança e brilho
quando a gente brota

Primavera flor
perfumado fruto
louvação de lar

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Paisagem


Quando a gente se lança
no vazio

Parece que nunca mais
acaba
de cair

Sonho recorrente

de quando se está crescendo

caindo... caindo...

sem fim

Após a queda

só o chão

"Do chão não passa..."

como se diz por aí

E o chão, era de se esperar

dura realidade

mas apara

ampara o sonhador

Quando a gente se lança

com propósito certo

ao descer, sorve a paisagem

ao cair, atinge o alvo


Do chão não passa...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Confessores de sonhos



Educadores são seres que compartilham
que repartem o próprio pão
Quem não se lembra de um só
que mudou o rumo de seu pensar?

Muitos de meus amigos
são professores
muitos, educadores
mesmo sem graduação

Companheiros na luta
de fazer chegar ao outro
a informação, e sobretudo
a formação, o caráter

Alguns na labuta diária
outros no exercício da arte
Todos em prol do comum
esquecendo de si, por vezes

Professor aprende ensinando
Como dizia o João
Desejo alegrias a todos
que possam seguir sonhando

Na dificuldade do cipó das sete
no estudo constante, livros
no ouvido pensante, concha
no ato da doação

O João a que me refiro é Guimarães Rosa.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sei



Poucos percebem
a sabiá na calçada
catando inseto
fora de hora

A planta que cresce
sem cuidado
A fresta
na boca da cidade

O filhote de beija-flor
pia a noite todinha
ninho debaixo da lâmpada
no galho da quaresmeira

Árvore que dá flor
tão longe da quaresma
dizem que árvore
também estressa

E sai a botar flor
por todo canto
Se morrer de inanição
seus frutos ficam

Poucos percebem
os gaviões
nas torres
da Avenida Paulista

E os vampiros
celular em punho
transitando livremente
entre nós

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Origami


Vania dobra papel
e na sobra do tempo

desdobra a voz:
canção

Vania Passos é a mais nova amiga de infância.

domingo, 5 de outubro de 2008

Lugar


Inevitável pensar
no que o olhar

desapegado

capta


No exercício
sem trégua

de observar

sem
julgamento


Não dói
nem decepciona

é apenas constatação

do que está


Nada é definitivo

Mas surpreende

compreender, de súbito

o que já sabia

A vaidade,
o ego
Sua dinâmica
em ação



O delírio
a embriaguez

seus desatinos

de auto-importância

As bolhas
de sabão,
frágeis,
explodem


O inflado, o inflamado

dá tudo no mesmo

A loucura me interessa

A vaidade, não


It's impossible
not to think
on what the eyes
unblocked see


At the observe
exercise
without rest
nor judgement


There's no pain,
nor deception,
just the notice
of what it is


Nothing is definitive,
but surprises me
to comprehend, at last,
what I already knew

The vanity,
the egoes
its dynamic
of action


The delirium,
the drunk sensation,
the madness
of selfish


The soap
bubbles
are fragile
and explode


These bubble person,
or these who burn itself
they are the same, after all
The madness interests me
Not the vanity

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Só dói quando eu rio


Do que é feita a dor:
Inflamação, corte , ferida?
De que parte do corpo vem:
Cérebro, órgão, membro?

Por que vem:
Descuido, excesso, pane?
Pra quem vem:
Obeso, frágil, desatinado?

Sofrer a dor física
é merecimento?
Momento passageiro
pra lembrar o quão humano?

Quando cutuca, fisga, sonda,
nos faz sensíveis demais
(difícil raciocinar)
é sina de ser gente?

Mas se tem dor todo animal
então não é
nosso o destino

de doer sem trégua

Afundar no chão
ser um só com a terra
virar esponja de ar
(meditação pode ajudar)

Mas se o espinho lá está
Tem que romper pra tirar
Há que tirar
pra ter paz

Poder rir, poder falar,
só não tendo dor
sensação boa
de bicho do mato

sem remédio
sem mal
sem cura
sem igual

feliz

sábado, 27 de setembro de 2008

Noite


Boiúna,
a Cobra-Grande
é a Mãe das Cobras
entre os Povos da Floresta

Não só indígenas
Mas todos os ribeirinhos
Ela guarda os segredos da Noite
Da Grande Noite Anterior ao Tempo

Ela doou a Noite aos homens
Para que descansassem
A pedido de sua filha
Que de um deles se enamorou

Boiúna é a Mãe da Coragem
Pune os incautos que sem honrá-la,
vão ao rio
e a acordam
na profundeza escura
das águas amazônicas

Boiúna,
The Great Snake
is the Mother's Snakes
between the RainForest People

Not only between the indigenous ones
but also the other people that lives in there
She keeps hide the secrets of the Night
The Great Night, before the Time

She has given the Night to the men
As a time to rest theirselves
To atend a claim of her daughter
That was in love to one of them

Boiúna is the Courage's Mother
She punish the imprudents
That go to the river, without honor her
To wake up her
at the deep darkness of amazonian water


quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Recorrente



Quero sair um dia na rua
com chuva e tudo
dançando, pintando
com a cor de Janaína
todos os prédios sisudos

Brincar na areia
dos parques escondidos
Fazer quintais
nos apartamentos

Quero um dia sair
com a cor dos lírios
e afrontar as cores da moda
quero sair de azul-piscina
e afogar no mar imenso que sou
todos os seres

Voltar grávida de gentes para casa
e explodir
como um cometa
em nove meses

26.09.1984

I want to go out someday, at the street
with rain, whethever,
dancing and painting
with Janaina colour
every grey building

I want to play at sand tank
of hidden parks
Bringing the backyard
to the apartments

I want to go out someday
with the lilly colour
and face the fashionists
I want to go out with pool-blue color
and drown at the great sea that I am
Every beings

Coming back home, pregnant of peoples
and exploding
like a comet
in nine months

sábado, 20 de setembro de 2008

Inconsciente


E se de repente o sonho
é mesmo a gente em cada detalhe
a pedra, o ogro, a flor, a queda
são tudo a gente

O olho, a mão, o corredor,
o vulto, a vela, o animal
são tudo mesmo a gente
tudo a gente mesmo

Se é assim que o sonho aflora
se for assim então
a gente é gente, é flor, é pedra, animal
somos nossa dor e salvação

Nossa queda e aflição
nossa mão na hora H
nosso escorregar
a mãe, o desconhecido, o horror

A água, o mar, se somos nós,
se nos banhamos lá
quando ninguém está a olhar
se unimos o divino e o satanás

Basta girar a chave, ver o corte sangrar,
a roupa despir, o lábio apertar,
esquecer a dor, aprender a ler
sina e sinais, sombra e assombração

De'star que aprendo a ler
Procuro minha mão no sonho
bebo o copo com água,
anoto lembranças no papel

Escuto D. Juan e outros xamãs
estudo Dr. Jung,
saúdo os gaviões
medito no trânsito

Mesmo assim,
se sou eu, sou eu, se sou eu,
banho de folha e de sal,
escalda-pés não vão curar

O que a lágrima destampa
o que o mar salga e o rio adoça
A sede da mulher-peixe,
a fome descomunal

Nada vai suavizar
a crueldade que dorme
e sai às vezes
pra passear


D. Juan é o personagem fascinante citado nos livros de Carlos Castañeda.
Carl Gustav Jung é fonte.
Sonhar é essencial.
Foto de Cauê Mathias.

domingo, 14 de setembro de 2008

Coffea arabica


O cheiro do café
aroma de casa
conforta a gente
fora dela

Um apetite
tão prosaico
a cultura
do cafezinho

Lembra visita
xicrinhas, canecas
de ágate, pão
crocante, biscoitinhos

Lembra hospitalidade
solidária e sem pressa
amizade brejeira
com muita conversa

Bolo de fubá, pão de queijo
as delícias do lugar
goma de macaxeira
na tapioca branquinha

Que se recheia com doce
salgado, queijo, o que for
e se coloca na mesa
antevendo do outro o prazer

Se o leite for fresquinho
vai junto pra quem gosta
eu prefiro café puro
"o preto que satisfaz"

Doce se for de mãe
amargo, se tiver bolo
com canela, se for sem pressa
e forte o suficiente

Quando o fogão era de lenha
a chaleira 'quentava água
o dia inteiro no fogo
café quando ela fervia

Era um tempo sem tempo
tempo de manga, abacate,
a gente contava o tempo
pela fruta que brotava

Tempo de jabuticaba
de tomar suco de uvaia
tempo de fazer goiabada
que no pão se derretia

Com café as madrugadas
de vigília, pra estudar
pra ficar acordado até tarde
nos velórios, despertar

No acampamento, sem conforto
pro porre do dia seguinte
sempre tinha a mão amiga
que trazia o café quente

Café amargo com sorvete
se não provou não tem idéia
é bom por demais da conta
vaca preta daqui mesmo

Se a gente mede a cultura
pela arte e pelo costume
se a culinária tem charme
o cafézinho tem tudo

É negro que nem a gente
servido em qualquer lugar
bebida de alma, aquece
perfuma, consola, é lar

A frase "O preto que satisfaz" foi escrita por Gonzaguinha, cantada pelas Frenéticas e dizia respeito ao feijão, outra de nossas riquezas.
Luís da Câmara Cascudo escreveu um clássico sobre a cultura culinária brasileira. Nina Horta, que também adoro, escreve delícias...
A foto é da Pousada dos Anjos, MG, onde é servido o café da manhã no fogão à lenha, com a simpatia do Toninho e da Vania...recomendo!

The coffee's smell
house's aroma
it comforts people
when far from home

An so prosaic appetite,
our coffee culture
It remembers visits,
and little cups, mugs of ágate,
hot bread , cookies

It remembers hospitality
solidary and without haste
sympathetic friendship
with much colloquy

Corn cake ,
White cheese's bread
our home delight's
macaxeira gum
to a white tapioca

That it is stuffed with candy
salty, cheese, whethever
It's place in the table
foreseeing the other's pleasure

If milk is cold
it's good together for those who appreciate
I prefer pure coffee
" the satisfying black one"

Witn candy if comes from mother
bitter taste, if we have cake
with cinnamon, if we are not hurry
and ever sufficiently strong

When the stove age of firewood
the kettle was the entire day at the fire
keeping hot water
there was coffee, when it boiled

It was a time without time
time of mangos, avocados,
people counted the time
for the fruit that sprouted

Time of
jabuticaba

to take
uvaia's
juice time
to make
goiabada

that in the bread if it melted

With coffee the dawns
of vigil, to study
to be waked up night away
when something died, to resist

In the encampment, without comfort
To headache of the following day
it always had who friendly help
by bringing the hot coffee


Coffee bitter, taste with ice cream
if you didn't prove, doesn't have idea
is good besides the point
our coffeshake
...

If people measures the culture
by the art and by the customs
if the culinary has charm
The coffee has everything

It is black like our people
served in any place
soul drink, heats it perfumes,
it consoles, it is home

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Convívio



Um rosto claro
de luz vestido
e olho aceso
é quase sempre sinal

de gente bem
bondade, valor
tão esquecido
nestes confins

a cor da pele
não importa
num rosto claro
habita o sol

Tem sal, é leve,
destaca-se
entre tantos
onde o peso dói

Sorriso sem pressa
gargalhada, fala
sem censura, o olho
que ri, que procura

No céu, os pássaros
nuvens, tudo
que enche o olhar
com imensidão

Homem, mulher
não importa
um rosto claro
é paz no turbilhão

Deixa o peso pra trás
dobra o pesar
toca o sino de bronze
e espanta o mal

E não importa
para onde
os outros olhos
estão voltados

Um rosto claro atrai
outra gente, solar
sem idade
gente que já sabe

Pra onde vai
de onde vem
o que deseja pra outro
também tem

Gente deste naipe
alivia meu peso
minha escuridão
assopra ferida

Cura meu povo
diminui a febre
faz ver beleza
onde antes não

Embora lunar
me distraio
e deixo a luz
me banhar

domingo, 7 de setembro de 2008

Depoimento


Quem é o cavaleiro que vem lá de Aruanda?

Atendeste bem cedo ao chamado da ancestralidade

Já era escolhido, já ouvia

O que outros não

Voz doce, voz mãe, voz brejeira

Foi temperando pela vida afora

Ouvindo rádio

Deu peso e cor, experimentou, tocou, tocou...


Ainda se diverte feito menino

Quando arrebenta corda de violão

E consegue trocar enquanto canta

Fica intrigado quando faz chorar (e sempre faz)

Aos homens e mulheres


Tem saudade das ruas de terra

Terras distantes

Saudades de sei lá.

É índio

É preto

É sinhozinho e não é.


Tem proteção, viu, menino?

N.Sra. do Rosário dos Homens Pretos,

São Benedito, Santo Antoninho,

Santos do candomblé,

Nhanderu, Tupã, Ceuci,

Encantados da floresta,

Clã dos Pássaros,

Todos Erês,

Cosme, Damião, Doun

E Espíritos guardiães.


A voz

Cuida dela

É a chave.

Agradece

A graça, o presente, o benefício

De ser luz para muita escuridão

E usa a escuridão que há

Porque tudo vibra

Tudo gera (Eh, Minas!)

Sê feliz!


Este depoimento, escrito faz tempo para o pai do Antonio, chegou até ele no momento certo e nos tornou amigos. A fala da alma é sempre verdadeira.


domingo, 31 de agosto de 2008

Bonsucesso


A santa se espanta
com tanta festa

com tanto barulho
em torno dela

A imagem primeira

esta, já não existe

A outra, bonita

já nasceu festeira


Muitos anos atrás
a festa era só

quermesse de gente nossa

pouco dinheiro e muita fé

De caminhão ou a pé
ia o povo pra festa
de lenço no bolso

pro suor na testa


A carpição do terreiro

era o mote de então
como pra construir casa

se fazia mutirão


Depois da lida, o padre

benzia a terra limpinha
Todo mundo guardava

da terra benta um 'cadinho


Pra saudade, febre, dores,
animal doente, plantação

Nossa Senhora da Terra
tirava tudo com a mão

Agora a terra vermelha

é que vem de caminhão

a carpição é passado

terra benta é Tradição

A quermesse, a novena,
tem muito, muito mais gente,

Tem palco, alto-falante

vendedor de cachorro-quente


A santa de vez, tem vontade
de sair pra dar uma espiada

rodar no meio do povo

fogos, catira, empolgada


Mas se contém, contrita
Coisa de santa, não é
Olha pela terra da gente
que não planta, mas tem fé

A Festa da Carpição na Igreja de N.Sra. do Bonsucesso é tradição na aldeia, há mais de duzentos anos.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Instalação

Como sugestão de suporte, vejamos:
Temos o céu com todas as estrelas...
O chão com todos seus minerais...
Uma montanha...
Uma lagoa...
Um prédio com nome de gigante...
Uma praça onde os mendigos dormem...
Uma igreja onde ninguém entra...
O local onde os jovens morreram...
A casa onde os velhos vivem...

Possibilidades infinitas

pra quem sabe ser

Artista


Para aqueles que não se deixam limitar pelo convencional...

As a support suggestion, let us see:
We have the sky with all the stars…
the soil with all its minerals…
a mountain…
a lagoon… a
building with giant name…
a square where the homeless sleep…
a church where nobody enters…
the place where the young had died…
the house where the old ones live…
Infinite possibilities for
who knows to be
an artist

domingo, 17 de agosto de 2008

Neo



Um sabonete de rosas
preto e cheiroso
ou um alvo e puro
sabão de coco

pra lavar a alma
todo o corpo
cabelos

Uma camiseta nova
de puro algodão
lisa, sem figuras
aquecendo o peito

Meias no inverno,
limpas e quentes,
para os pés que nos levam
aonde escolhemos

O bom e velho jeans
amaciado pelo tempo
Um agasalho,
pois que faz frio

o calçado mais confortável
para o peregrino
que enfrenta bravamente
a aspereza do caminho

Os objetos-casca
que nos protegem
expressam o que somos



A alma, ah, essa vive nua...

A roses black smelly soap

or a white coconut soap

to wash the soul

all the body

hair

A new t-shirt of pure cotton

smooth, without figures

heating the chest

Stockings in the winter,

clean and hot,

for the feet that take us where we choose

Good and old the jeans

softened for the time

A jacket, that it's cold

the footwear most comfortable

for the pilgrim that faces bravely

the harshness of the way

The rind-object that protect us

they express what we are

The soul, ah, it lives naked…

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Seu Zé tá pensando em boi...



O pai

se vai a cada dia
tentando entender
e ficar
aqui

A cada momento
escuta mais
seus sons interiores
sons antigos
de um tempo bom

O pai
cansou da lida
mas ainda resiste
buscando refúgio
nas mínimas coisas

Aprendeu
que é no trabalho que reside
a honra de um homem
que é assim que tem de ser

Um homem bom
de caráter firme
vive bem-humorado
mas luta contra o tempo

Contra o corpo
que já não o obedece
Contra a impossibilidade
de ser eterno

O pai perdeu, buscando,
alguns de seus muitos amigos,
seus ancestrais
mas mantém sua fé

O pai, que viu no caminho
a onça braba, cobra, sezão,
a fome, a seca, pilares e pedras
Hoje esconde as dores
pra que a gente não sofra

E apesar da rabugice
que se insinua
continua tentando
compreender

A cidade, a gente,
os adolescentes, o tempo,
a tecnologia, o silêncio,
sua sina, ganhos,
perdas

Meu sonho é levar
o pai de volta
ao lar natal
Tenho medo, porém
que ele não reconheça
nada mais de seu

Talvez a viagem
me apavore mais
que ao pai
pois que ele não tem medo

Foi ele
afinal
quem me ensinou
a enfrentar o mar

Seu Zé, José, o Zé Grande, tem mais amigos do que pode contar. É o vô que conserta tudo e que dirige como ninguém. É o homem que gosta de pescar, de estar em família e de cafuné. Que dá risada e procura um docinho depois do almoço. Que nos cobra sempre, fazer o que é certo. A benção, pai!
"Seu Zé tá pensando em boi" é uma frase da canção "Seo Zé", de Carlinhos Brown.

The father goes
each day
trying to understand
and to stay here
At each moment listening more
his interior sounds
old sounds of a good time

The father is tired
of the chore
but he still resists
searching shelter
in the minimum things

He learned
that it's in the work
that inhabits the honor of a man
that this is how it has to be

A good man of firm character
he lives well
but fights
against the time

Against the body
that already it does not obey him
Against the impossibility
of being perpetual

The father lost, searching for,
some of his many friends,
his ancestral ones
but he keeps his faith

The father, who saw in his way
the panther, diseases,the hunger,
dry soil, pillars and rocks
Today hide pains for us not to suffer

Although the bad humour
that sometimes come to him
continues trying
to understand

The city, the people,
the teenagers, the time,
the technology, silence,
his destiny, profits, losses

My dream is
to lead the father
in return
to the native home

I have fear, however
that it doesn't recognize
nothing more
as himself

Perhaps the trip
terrifies me more
that to the father
therefore that he doesn't have fear

He was, after all
who made me learn
how to face the sea

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Ninho



Semana após semana
o espetáculo:
Vida
reencenar

As idiossincrasias,
as idiotices,
as esquisitices,
por que não?

Nossa covardia,
nossa imensa coragem.
Nossa ação,
nossa areia movediça.

Ser niilista,
ser quixote,
(ser artista,
ser filhote)

Rimar sem medo,
rir,
queixar-nos,
acarinhar,
doer

Roer o osso duro
como famintos
Lamber o caldo
no fundo da cuia
Comer o mingau
pelas beiradas

alimentar-nos
de luz
lua
fogo

Ambicionar:
amar.
Mais que amar:
voar.
Mais que voar,
perder-nos.
Mais que nos perder,
encontrar!

O ninho,
o céu,
o filho,
o breu.
O que vimos
de tão belo
no outro,
em nós.

Week after week
The spectacle:
Life
to replay

The idiosyncrasies
The idiocy
The odd
Why not?

Our cowardice
Our immense courage
Our action
Our immobility

Being nihilistic
Being Quixote
(Being artist
Being new)

To rhyme without fear
To laugh
To complain about,
To nurture another,
To hurt ourselves

To chew the hard bone
as hungry ones
To lick the soup
from the bowl's bottom
To eat the hot meal
by the outside

Feeding ourselves
with light,
moon,
fire

Ambitioning:
love
More than love
To fly
More than fly,
lost ourselves
more than lost,
Find somewhere,

The nest,
the sky,
the son,
the dark,
The beauty that we see
to another,
in Us

O niilismo - do latim nihil ("nada") é uma doutrina filosófica e política que prega a negação da ordem socialmente estabelecida e também da sua estética. Tem em Niestzche sua face mais conhecida.
Dom Quixote de La Mnacha é um dos grandes personagens da literatura mundial, do autor Miguel de Cervantes