sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Vixe !



omáximo
assim juntinho
parece um orixá


as palavras
paisagens sonoras
em x


desenham-se
arcaicas
ancestrais


xamã
Xangô
Oxum


herança de preto
índio
caboco: mameluco


xaréu
xerém
oxente!


assim dizer
transporta
pro sertão


pras grotas
despenhadeiro
pro olho d'água, milagre


peixe
enxada
feixe


roçado novo
lenha na cabeça
sobre o pano enrodilhado


enxame
xará
examina


estrago que fez
abelha de ferrão brabo
doído que só



xixi
exame
Oxalá


me guarde
me leve
conhecer cidade grande


omáximo!




segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Faxina


Descobrindo os cantos escuros
tirando a poeira acumulada
no correr dos dias

Esfregando até limpar
tudo o que precisa
de água e cuidado

Abrindo a casa
pra Dona Maria entrar
aquela que zela

Colocando flor no vaso
vaso no canto
pedra em redor

Doando tudo
o que já não servia
e esperava novo dono

Preparando a casa
a comida, o aconchego
com carinho redobrado

Pra vencer o tempo
que corrói as coisas
pra abrir espaço

Que o novo chega
com esperança e brilho
quando a gente brota

Primavera flor
perfumado fruto
louvação de lar

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Paisagem


Quando a gente se lança
no vazio

Parece que nunca mais
acaba
de cair

Sonho recorrente

de quando se está crescendo

caindo... caindo...

sem fim

Após a queda

só o chão

"Do chão não passa..."

como se diz por aí

E o chão, era de se esperar

dura realidade

mas apara

ampara o sonhador

Quando a gente se lança

com propósito certo

ao descer, sorve a paisagem

ao cair, atinge o alvo


Do chão não passa...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Confessores de sonhos



Educadores são seres que compartilham
que repartem o próprio pão
Quem não se lembra de um só
que mudou o rumo de seu pensar?

Muitos de meus amigos
são professores
muitos, educadores
mesmo sem graduação

Companheiros na luta
de fazer chegar ao outro
a informação, e sobretudo
a formação, o caráter

Alguns na labuta diária
outros no exercício da arte
Todos em prol do comum
esquecendo de si, por vezes

Professor aprende ensinando
Como dizia o João
Desejo alegrias a todos
que possam seguir sonhando

Na dificuldade do cipó das sete
no estudo constante, livros
no ouvido pensante, concha
no ato da doação

O João a que me refiro é Guimarães Rosa.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sei



Poucos percebem
a sabiá na calçada
catando inseto
fora de hora

A planta que cresce
sem cuidado
A fresta
na boca da cidade

O filhote de beija-flor
pia a noite todinha
ninho debaixo da lâmpada
no galho da quaresmeira

Árvore que dá flor
tão longe da quaresma
dizem que árvore
também estressa

E sai a botar flor
por todo canto
Se morrer de inanição
seus frutos ficam

Poucos percebem
os gaviões
nas torres
da Avenida Paulista

E os vampiros
celular em punho
transitando livremente
entre nós

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Origami


Vania dobra papel
e na sobra do tempo

desdobra a voz:
canção

Vania Passos é a mais nova amiga de infância.

domingo, 5 de outubro de 2008

Lugar


Inevitável pensar
no que o olhar

desapegado

capta


No exercício
sem trégua

de observar

sem
julgamento


Não dói
nem decepciona

é apenas constatação

do que está


Nada é definitivo

Mas surpreende

compreender, de súbito

o que já sabia

A vaidade,
o ego
Sua dinâmica
em ação



O delírio
a embriaguez

seus desatinos

de auto-importância

As bolhas
de sabão,
frágeis,
explodem


O inflado, o inflamado

dá tudo no mesmo

A loucura me interessa

A vaidade, não


It's impossible
not to think
on what the eyes
unblocked see


At the observe
exercise
without rest
nor judgement


There's no pain,
nor deception,
just the notice
of what it is


Nothing is definitive,
but surprises me
to comprehend, at last,
what I already knew

The vanity,
the egoes
its dynamic
of action


The delirium,
the drunk sensation,
the madness
of selfish


The soap
bubbles
are fragile
and explode


These bubble person,
or these who burn itself
they are the same, after all
The madness interests me
Not the vanity

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Só dói quando eu rio


Do que é feita a dor:
Inflamação, corte , ferida?
De que parte do corpo vem:
Cérebro, órgão, membro?

Por que vem:
Descuido, excesso, pane?
Pra quem vem:
Obeso, frágil, desatinado?

Sofrer a dor física
é merecimento?
Momento passageiro
pra lembrar o quão humano?

Quando cutuca, fisga, sonda,
nos faz sensíveis demais
(difícil raciocinar)
é sina de ser gente?

Mas se tem dor todo animal
então não é
nosso o destino

de doer sem trégua

Afundar no chão
ser um só com a terra
virar esponja de ar
(meditação pode ajudar)

Mas se o espinho lá está
Tem que romper pra tirar
Há que tirar
pra ter paz

Poder rir, poder falar,
só não tendo dor
sensação boa
de bicho do mato

sem remédio
sem mal
sem cura
sem igual

feliz