quinta-feira, 12 de junho de 2008

Nanã

A superfície mutável do lago,
cinza-chumbo na chuva, quase sólido,
verde claro ao meio-dia,
alaranjado na tarde,
reflete luzes à noite

E não importa
se o caos impera ao redor
carros, buzinas,
namorados, hip-hop
pipoqueiro e hot-dog

Crianças em meio
aos pit-bulls encoleirados
moças de roupa justa,
homens que correm
(atrás de que, meu Deus?)

O lago impávido, observa
com a placidez de Nanã
Pulam peixes prata,
Tartarugas emergem

Alvas garças, mergulhões,
patos, marrecos, biguás,
ninhal improvisado nas árvores
da ilha, como convém

O convívio com o lago
na praça onde imperam
árvores que me sabem,
que me viram brincar,

tirar retrato, carregar cenário,
brigar e fazer as pazes,
alimentar menino,
passear cachorro...
tudo vem à tona

Na superfície do lago
a história de meus pais,
meus avós, recém-chegados
de Minas, a trabalhar
Na algazarra das maritacas,
a alegria da filharada...

E então me sinto como pedra
que rola, alisa, modela seu viver
e sonha voar,
sem quase sair do lugar

Essa foto, que eu adoro, foi tirada pela Cíntia Nagatomo e apelidada "Céu de Munch".
A grade quebrada já foi restaurada.
Os céus alaranjados voltaram nas tardes de junho.
Venham ver...

4 comentários:

Cintia Nagatomo disse...

Gostei da foto!!

Pode publicar a foto sim sem problemas!

Parabéns pelo Blog!

bjo
Cíntia

Mary Flower disse...

Oi, Cíntia,
Que bom que veio!
Fico feliz de poder colocar teu trabalho junto com meu texto.
valeu! Apareça!

Débora Kikuti - artista de cara pro Sol disse...

Querida, que coisa mais impressionante esse conjunto que cê conseguiu de escritura com a imagem (a Cintia é tudo!)...ficou maravilhoso isso...Eu, que já gostava muito desse lago, agora gosto mais! Enxerguei com você minhas histórias também - e nem lembrava mais delas - lembrei da gente, bem mais nova do que a gente já é, brincando de encenar a vida; das minhas passeadas no pedalinho...que coisa mais boa!!! Brigada pela lembrança! Aparecerei em breve pra ver esse céu lindo. Beijo grande.

Mary Flower disse...

Oi, Dé,
Não é? A gente juntava as loucuras todas no mesmo caldeirão... e o lago espiava de longe. Venha sempre que quiser, aqui e lá.