Se me dedico
a desenhar, desenho
Se me ponho a entoar,
canto
tomo dos instrumentos
faço minhas armas
lido com medos, processos,
segredos
se estruturo em barro,
carvão ou giz
me preservo, me tranco
me abro ou observo
já pintei com lágrimas
saliva, sangue
já esfreguei terra, folhas, sumos
já lavei aquarelas
afim de esquecer
entornei cafés
engoli fumaça
cortei lascas, farpas, pontas
entortei metais
Doí, sarei,
Surtei, perdi,
fui muito longe sem sequer sair
na madrugada, o assombro
na cantiga, doçura
de ninar criança
o protesto rouco
dores e lamentos
corais, botecos
Kirie, blues
"Este baião,
eu inventei pra ninar
o meu amor num berço feito
de raios de luar,
baião, oi, de ninar..."
A voz sai sem esforço
quando a canção pede
no tom conforme
o outro tom
e quando os pássaros
vêm dançar aqui
aí eu bebo o céu
em sua inteireza
Aspiro ao vôo
imito jeitos
transtorno os outros
intenciono ser
Culpa, culpa,
mea culpa,
de sonhar acordada
de gargalhar alto
de chorar à toa
de fazer sozinha
de tentar adivinhar
de ir aonde o vento me levar
agora
A música "Baião de ninar", aprendi com Gisele Cruz, assim como o "Kyrie", herança das missas cantadas em latim. A foto foi feita numa perambulação por São Paulo, em companhia do Cauê. Parece a lateral da matriz da minha cidade...