quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Irmão
tem um alerta
e um chamado
Grito estridente
estremece
arrepia
Quem no solo
se vê
só, sem defesa
Vôo alto, leve,
correntes de ar quente
prenúncio de tempestade
Passarinhos ressabiados
ninhos a proteger
do predador e da chuva
Asas abertas
cabeça ereta
vôo rasante: a presa
O bico cortante,
na garra, o bicho
morto
Tufos de penas eriçadas
desaba a tempestade
mais nenhum pio
Carrapateiro, pequena ave
sinal na língua do pajé
cocar de pena rajada
Bela brutalidade
força da natureza
recordação
Pinhé grita,
respondo:
Aqui!
domingo, 7 de dezembro de 2008
Sina
de mãe
tambor na boca
doçura e força
Vozes confortando
a tragédia
Vozes se unindo
contra o caos
Organizando,
se armando
e amando
o ofício
Mulheres brabas
e gentis
Eleitas pelo céu
abençoadas com pulmões
e ar, entoando
Trazendo a paz
pra dentro de nós
Vozes em busca
de sentido...
sina de cantador
Vozes que tocam
Toques que voam
Vôo que chega
nos corações
Mulheres
quem duvida
do vosso poder?
No dia 06 de dezembro, num esforço para ajudar as vítimas das enchentes em Santa Catarina, realizou-se no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, a Virada Cultural de Solidariedade, onde artistas se apresentaram e os ingressos eram doações para as comunidades atingidas. Assisti aos shows de Ceumar e Badi Assad e me atingiu em cheio a força destas duas mulheres. Aline, obrigada pela companhia.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Guarani
Quando o vento vem rodar
Nas palhas, penas e folhas
Quando vem, carinho ligeiro
grudar poeira vermelha
nos cabelos, penas, pele
Com gaviões e urubus
a gente voa
É gente e voa
Quando o cheiro da chuva
levanta o cheiro da terra
embriaga o capinzal
Pés-de-conta pingam
brota água do barranco
a gente chapinha
Vira peixe e brilha
Se o vendaval seco bole
Se a chuva acende o brincar
O fogo, então, quem dirá?
Tupana alegre, se junta
com o velho e sábio avô
Ao pé do fogo cirandam
voz, histórias e lembranças
além do tempo e lugar
Tatá, o fogo, conhece
o que há prá conhecer
A gente acende por dentro
escuta a fala do Tempo
É brasa na escuridão
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Aos poucos
pérolas
que as quero
de volta no mar
cantos
que os desejo
sem nenhum pudor
rotas
que as invento
para sempre achar
cores
emprestadas tomo
só para compor
dúvida
tiro do bolso
pra me assegurar
dose
de atitude certa
para perceber
auto
de moléstia finda
pra revisitar
bonde
de história gasta
pra reconstruir
margem
de erro, mote
pra me distrair
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Vixe !
arcaicas
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Faxina
Descobrindo os cantos escuros
tirando a poeira acumulada
no correr dos dias
Esfregando até limpar
tudo o que precisa
de água e cuidado
Abrindo a casa
pra Dona Maria entrar
aquela que zela
Colocando flor no vaso
vaso no canto
pedra em redor
Doando tudo
o que já não servia
e esperava novo dono
Preparando a casa
a comida, o aconchego
com carinho redobrado
Pra vencer o tempo
que corrói as coisas
pra abrir espaço
Que o novo chega
com esperança e brilho
quando a gente brota
Primavera flor
perfumado fruto
louvação de lar
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Paisagem
Quando a gente se lança
no vazio
Parece que nunca mais
acaba de cair
Sonho recorrente
de quando se está crescendo
caindo... caindo...
sem fim
Após a queda
só o chão
"Do chão não passa..."
como se diz por aí
E o chão, era de se esperar
dura realidade
mas apara
ampara o sonhador
Quando a gente se lança
com propósito certo
ao descer, sorve a paisagem
ao cair, atinge o alvo
Do chão não passa...
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Confessores de sonhos
Educadores são seres que compartilham
que repartem o próprio pão
Quem não se lembra de um só
que mudou o rumo de seu pensar?
Muitos de meus amigos
são professores
muitos, educadores
mesmo sem graduação
Companheiros na luta
de fazer chegar ao outro
a informação, e sobretudo
a formação, o caráter
Alguns na labuta diária
outros no exercício da arte
Todos em prol do comum
esquecendo de si, por vezes
Professor aprende ensinando
Como dizia o João
Desejo alegrias a todos
que possam seguir sonhando
Na dificuldade do cipó das sete
no estudo constante, livros
no ouvido pensante, concha
no ato da doação
O João a que me refiro é Guimarães Rosa.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Sei
Poucos percebem
a sabiá na calçada
catando inseto
fora de hora
A planta que cresce
sem cuidado
A fresta
na boca da cidade
O filhote de beija-flor
pia a noite todinha
ninho debaixo da lâmpada
no galho da quaresmeira
Árvore que dá flor
tão longe da quaresma
dizem que árvore
também estressa
E sai a botar flor
por todo canto
Se morrer de inanição
seus frutos ficam
Poucos percebem
os gaviões
nas torres
da Avenida Paulista
E os vampiros
celular em punho
transitando livremente
entre nós
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
domingo, 5 de outubro de 2008
Lugar
Inevitável pensar
no que o olhar
desapegado
capta
No exercício
sem trégua
de observar
sem julgamento
Não dói
nem decepciona
é apenas constatação
do que está
Nada é definitivo
Mas surpreende
compreender, de súbito
o que já sabia
A vaidade,
o ego
Sua dinâmica
em ação
O delírio
a embriaguez
seus desatinos
de auto-importância
As bolhas
de sabão,
frágeis,
explodem
O inflado, o inflamado
dá tudo no mesmo
A loucura me interessa
A vaidade, não
It's impossible
not to think
on what the eyes
unblocked see
At the observe
exercise
without rest
nor judgement
There's no pain,
nor deception,
just the notice
of what it is
Nothing is definitive,
but surprises me
to comprehend, at last,
what I already knew
The vanity,
the egoes
its dynamic
of action
The delirium,
the drunk sensation,
the madness
of selfish
The soap
bubbles
are fragile
and explode
These bubble person,
or these who burn itself
they are the same, after all
The madness interests me
Not the vanity
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Só dói quando eu rio
Do que é feita a dor:
Inflamação, corte , ferida?
De que parte do corpo vem:
Cérebro, órgão, membro?
Por que vem:
Descuido, excesso, pane?
Pra quem vem:
Obeso, frágil, desatinado?
Sofrer a dor física
é merecimento?
Momento passageiro
pra lembrar o quão humano?
Quando cutuca, fisga, sonda,
nos faz sensíveis demais
(difícil raciocinar)
é sina de ser gente?
Mas se tem dor todo animal
então não é só
nosso o destino
de doer sem trégua
Afundar no chão
ser um só com a terra
virar esponja de ar
(meditação pode ajudar)
Mas se o espinho lá está
Tem que romper pra tirar
Há que tirar
pra ter paz
Poder rir, poder falar,
só não tendo dor
sensação boa
de bicho do mato
sem remédio
sem mal
sem cura
sem igual
feliz
sábado, 27 de setembro de 2008
Noite
Boiúna,
a Cobra-Grande
é a Mãe das Cobras
entre os Povos da Floresta
Não só indígenas
Mas todos os ribeirinhos
Ela guarda os segredos da Noite
Da Grande Noite Anterior ao Tempo
Ela doou a Noite aos homens
Para que descansassem
A pedido de sua filha
Que de um deles se enamorou
Boiúna é a Mãe da Coragem
Pune os incautos que sem honrá-la,
vão ao rio e a acordam
na profundeza escura das águas amazônicas
Boiúna,
The Great Snake
is the Mother's Snakes
between the RainForest People
Not only between the indigenous ones
but also the other people that lives in there
She keeps hide the secrets of the Night
The Great Night, before the Time
She has given the Night to the men
As a time to rest theirselves
To atend a claim of her daughter
That was in love to one of them
Boiúna is the Courage's Mother
She punish the imprudents
That go to the river, without honor her
To wake up her
at the deep darkness of amazonian water
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Recorrente
Quero sair um dia na rua
com chuva e tudo
dançando, pintando
com a cor de Janaína
todos os prédios sisudos
Brincar na areia
dos parques escondidos
Fazer quintais
nos apartamentos
Quero um dia sair
com a cor dos lírios
e afrontar as cores da moda
quero sair de azul-piscina
e afogar no mar imenso que sou
todos os seres
Voltar grávida de gentes para casa
e explodir
como um cometa
em nove meses
26.09.1984
I want to go out someday, at the street
with rain, whethever,
dancing and painting
with Janaina colour
every grey building
I want to play at sand tank
of hidden parks
Bringing the backyard
to the apartments
I want to go out someday
with the lilly colour
and face the fashionists
I want to go out with pool-blue color
and drown at the great sea that I am
Every beings
Coming back home, pregnant of peoples
and exploding
like a comet
in nine months
sábado, 20 de setembro de 2008
Inconsciente
E se de repente o sonho
é mesmo a gente em cada detalhe
a pedra, o ogro, a flor, a queda
são tudo a gente
O olho, a mão, o corredor,
o vulto, a vela, o animal
são tudo mesmo a gente
tudo a gente mesmo
Se é assim que o sonho aflora
se for assim então
a gente é gente, é flor, é pedra, animal
somos nossa dor e salvação
Nossa queda e aflição
nossa mão na hora H
nosso escorregar
a mãe, o desconhecido, o horror
A água, o mar, se somos nós,
se nos banhamos lá
quando ninguém está a olhar
se unimos o divino e o satanás
Basta girar a chave, ver o corte sangrar,
a roupa despir, o lábio apertar,
esquecer a dor, aprender a ler
sina e sinais, sombra e assombração
De'star que aprendo a ler
Procuro minha mão no sonho
bebo o copo com água,
anoto lembranças no papel
Escuto D. Juan e outros xamãs
estudo Dr. Jung,
saúdo os gaviões
medito no trânsito
Mesmo assim,
se sou eu, sou eu, se sou eu,
banho de folha e de sal,
escalda-pés não vão curar
O que a lágrima destampa
o que o mar salga e o rio adoça
A sede da mulher-peixe,
a fome descomunal
Nada vai suavizar
a crueldade que dorme
e sai às vezes
pra passear
D. Juan é o personagem fascinante citado nos livros de Carlos Castañeda.
Carl Gustav Jung é fonte.
Sonhar é essencial.
Foto de Cauê Mathias.
domingo, 14 de setembro de 2008
Coffea arabica
O cheiro do café
aroma de casa
conforta a gente
fora dela
Um apetite
tão prosaico
a cultura
do cafezinho
Lembra visita
xicrinhas, canecas
de ágate, pão
crocante, biscoitinhos
Lembra hospitalidade
solidária e sem pressa
amizade brejeira
com muita conversa
Bolo de fubá, pão de queijo
as delícias do lugar
goma de macaxeira
na tapioca branquinha
Que se recheia com doce
salgado, queijo, o que for
e se coloca na mesa
antevendo do outro o prazer
Se o leite for fresquinho
vai junto pra quem gosta
eu prefiro café puro
"o preto que satisfaz"
Doce se for de mãe
amargo, se tiver bolo
com canela, se for sem pressa
e forte o suficiente
Quando o fogão era de lenha
a chaleira 'quentava água
o dia inteiro no fogo
café quando ela fervia
Era um tempo sem tempo
tempo de manga, abacate,
a gente contava o tempo
pela fruta que brotava
Tempo de jabuticaba
de tomar suco de uvaia
tempo de fazer goiabada
que no pão se derretia
Com café as madrugadas
de vigília, pra estudar
pra ficar acordado até tarde
nos velórios, despertar
No acampamento, sem conforto
pro porre do dia seguinte
sempre tinha a mão amiga
que trazia o café quente
Café amargo com sorvete
se não provou não tem idéia
é bom por demais da conta
vaca preta daqui mesmo
Se a gente mede a cultura
pela arte e pelo costume
se a culinária tem charme
o cafézinho tem tudo
É negro que nem a gente
servido em qualquer lugar
bebida de alma, aquece
perfuma, consola, é lar
A frase "O preto que satisfaz" foi escrita por Gonzaguinha, cantada pelas Frenéticas e dizia respeito ao feijão, outra de nossas riquezas.
Luís da Câmara Cascudo escreveu um clássico sobre a cultura culinária brasileira. Nina Horta, que também adoro, escreve delícias...
A foto é da Pousada dos Anjos, MG, onde é servido o café da manhã no fogão à lenha, com a simpatia do Toninho e da Vania...recomendo!
The coffee's smell
house's aroma
it comforts people
when far from home
An so prosaic appetite,
our coffee culture
It remembers visits,
and little cups, mugs of ágate,
hot bread , cookies
It remembers hospitality
solidary and without haste
sympathetic friendship
with much colloquy
Corn cake ,
White cheese's bread
our home delight's
macaxeira gum
to a white tapioca
That it is stuffed with candy
salty, cheese, whethever
It's place in the table
foreseeing the other's pleasure
If milk is cold
it's good together for those who appreciate
I prefer pure coffee
" the satisfying black one"
Witn candy if comes from mother
bitter taste, if we have cake
with cinnamon, if we are not hurry
and ever sufficiently strong
When the stove age of firewood
the kettle was the entire day at the fire
keeping hot water
there was coffee, when it boiled
It was a time without time
time of mangos, avocados,
people counted the time
for the fruit that sprouted
Time of jabuticaba
to take uvaia's juice time
to make goiabada
that in the bread if it melted
With coffee the dawns
of vigil, to study
to be waked up night away
when something died, to resist
In the encampment, without comfort
To headache of the following day
it always had who friendly help
by bringing the hot coffee
Coffee bitter, taste with ice cream
if you didn't prove, doesn't have idea
is good besides the point
our coffeshake...
If people measures the culture
by the art and by the customs
if the culinary has charm
The coffee has everything
It is black like our people
served in any place
soul drink, heats it perfumes,
it consoles, it is home
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Convívio
Um rosto claro
de luz vestido
e olho aceso
é quase sempre sinal
de gente bem
bondade, valor
tão esquecido
nestes confins
a cor da pele
não importa
num rosto claro
habita o sol
Tem sal, é leve,
destaca-se
entre tantos
onde o peso dói
Sorriso sem pressa
gargalhada, fala
sem censura, o olho
que ri, que procura
No céu, os pássaros
nuvens, tudo
que enche o olhar
com imensidão
Homem, mulher
não importa
um rosto claro
é paz no turbilhão
Deixa o peso pra trás
dobra o pesar
toca o sino de bronze
e espanta o mal
E não importa
para onde
os outros olhos
estão voltados
Um rosto claro atrai
outra gente, solar
sem idade
gente que já sabe
Pra onde vai
de onde vem
o que deseja pra outro
também tem
Gente deste naipe
alivia meu peso
minha escuridão
assopra ferida
Cura meu povo
diminui a febre
faz ver beleza
onde antes não
Embora lunar
me distraio
e deixo a luz
me banhar
domingo, 7 de setembro de 2008
Depoimento
Atendeste bem cedo ao chamado da ancestralidade
Já era escolhido, já ouvia
O que outros não
Voz doce, voz mãe, voz brejeira
Foi temperando pela vida afora
Ouvindo rádio
Deu peso e cor, experimentou, tocou, tocou...
Ainda se diverte feito menino
Quando arrebenta corda de violão
E consegue trocar enquanto canta
Fica intrigado quando faz chorar (e sempre faz)
Aos homens e mulheres
Tem saudade das ruas de terra
Terras distantes
Saudades de sei lá.
É índio
É preto
É sinhozinho e não é.
Tem proteção, viu, menino?
N.Sra. do Rosário dos Homens Pretos,
São Benedito, Santo Antoninho,
Santos do candomblé,
Nhanderu, Tupã, Ceuci,
Encantados da floresta,
Clã dos Pássaros,
Todos Erês,
Cosme, Damião, Doun
E Espíritos guardiães.
A voz
Cuida dela
É a chave.
Agradece
A graça, o presente, o benefício
De ser luz para muita escuridão
E usa a escuridão que há
Porque tudo vibra
Tudo gera (Eh, Minas!)
Sê feliz!
Este depoimento, escrito faz tempo para o pai do Antonio, chegou até ele no momento certo e nos tornou amigos. A fala da alma é sempre verdadeira.
domingo, 31 de agosto de 2008
Bonsucesso
A santa se espanta
com tanta festa
com tanto barulho
em torno dela
A imagem primeira
esta, já não existe
A outra, bonita
já nasceu festeira
Muitos anos atrás
a festa era só
quermesse de gente nossa
pouco dinheiro e muita fé
De caminhão ou a pé
ia o povo pra festa
de lenço no bolso
pro suor na testa
A carpição do terreiro
era o mote de então
como pra construir casa
se fazia mutirão
Depois da lida, o padre
benzia a terra limpinha
Todo mundo guardava
da terra benta um 'cadinho
Pra saudade, febre, dores,
animal doente, plantação
Nossa Senhora da Terra
tirava tudo com a mão
Agora a terra vermelha
é que vem de caminhão
a carpição é passado
terra benta é Tradição
A quermesse, a novena,
tem muito, muito mais gente,
Tem palco, alto-falante
vendedor de cachorro-quente
A santa de vez, tem vontade
de sair pra dar uma espiada
rodar no meio do povo
fogos, catira, empolgada
Mas se contém, contrita
Coisa de santa, não é
Olha pela terra da gente
que não planta, mas tem fé
A Festa da Carpição na Igreja de N.Sra. do Bonsucesso é tradição na aldeia, há mais de duzentos anos.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Instalação
Temos o céu com todas as estrelas...
O chão com todos seus minerais...
Uma montanha...
Uma lagoa...
Um prédio com nome de gigante...
Uma praça onde os mendigos dormem...
Uma igreja onde ninguém entra...
O local onde os jovens morreram...
A casa onde os velhos vivem...
Possibilidades infinitas
pra quem sabe ser
Artista
Para aqueles que não se deixam limitar pelo convencional...
As a support suggestion, let us see:
We have the sky with all the stars…
the soil with all its minerals…
a mountain…
a lagoon… a
building with giant name…
a square where the homeless sleep…
a church where nobody enters…
the place where the young had died…
the house where the old ones live…
Infinite possibilities for
who knows to be
an artist
domingo, 17 de agosto de 2008
Neo
Um sabonete de rosas
preto e cheiroso
ou um alvo e puro
sabão de coco
pra lavar a alma
todo o corpo
cabelos
Uma camiseta nova
de puro algodão
lisa, sem figuras
aquecendo o peito
Meias no inverno,
limpas e quentes,
para os pés que nos levam
aonde escolhemos
O bom e velho jeans
amaciado pelo tempo
Um agasalho,
pois que faz frio
o calçado mais confortável
para o peregrino
que enfrenta bravamente
a aspereza do caminho
Os objetos-casca
que nos protegem
expressam o que somos
A alma, ah, essa vive nua...
A roses black smelly soap
or a white coconut soap
to wash the soul
all the body
hair
A new t-shirt of pure cotton
smooth, without figures
heating the chest
Stockings in the winter,
clean and hot,
for the feet that take us where we choose
Good and old the jeans
softened for the time
A jacket, that it's cold
the footwear most comfortable
for the pilgrim that faces bravely
the harshness of the way
The rind-object that protect us
they express what we are
The soul, ah, it lives naked…
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
Seu Zé tá pensando em boi...
O pai
se vai a cada dia
tentando entender
e ficar
aqui
A cada momento
escuta mais
seus sons interiores
sons antigos
de um tempo bom
O pai
cansou da lida
mas ainda resiste
buscando refúgio
nas mínimas coisas
Aprendeu
que é no trabalho que reside
a honra de um homem
que é assim que tem de ser
Um homem bom
de caráter firme
vive bem-humorado
mas luta contra o tempo
Contra o corpo
que já não o obedece
Contra a impossibilidade
de ser eterno
O pai perdeu, buscando,
alguns de seus muitos amigos,
seus ancestrais
mas mantém sua fé
O pai, que viu no caminho
a onça braba, cobra, sezão,
a fome, a seca, pilares e pedras
Hoje esconde as dores
pra que a gente não sofra
E apesar da rabugice
que se insinua
continua tentando
compreender
A cidade, a gente,
os adolescentes, o tempo,
a tecnologia, o silêncio,
sua sina, ganhos,
perdas
Meu sonho é levar
o pai de volta
ao lar natal
Tenho medo, porém
que ele não reconheça
nada mais de seu
Talvez a viagem
me apavore mais
que ao pai
pois que ele não tem medo
Foi ele
afinal
quem me ensinou
a enfrentar o mar
Seu Zé, José, o Zé Grande, tem mais amigos do que pode contar. É o vô que conserta tudo e que dirige como ninguém. É o homem que gosta de pescar, de estar em família e de cafuné. Que dá risada e procura um docinho depois do almoço. Que nos cobra sempre, fazer o que é certo. A benção, pai!
"Seu Zé tá pensando em boi" é uma frase da canção "Seo Zé", de Carlinhos Brown.
The father goes
each day
trying to understand
and to stay here
At each moment listening more
his interior sounds
old sounds of a good time
The father is tired
of the chore
but he still resists
searching shelter
in the minimum things
He learned
that it's in the work
that inhabits the honor of a man
that this is how it has to be
A good man of firm character
he lives well
but fights
against the time
Against the body
that already it does not obey him
Against the impossibility
of being perpetual
The father lost, searching for,
some of his many friends,
his ancestral ones
but he keeps his faith
The father, who saw in his way
the panther, diseases,the hunger,
dry soil, pillars and rocks
Today hide pains for us not to suffer
Although the bad humour
that sometimes come to him
continues trying
to understand
The city, the people,
the teenagers, the time,
the technology, silence,
his destiny, profits, losses
My dream is
to lead the father
in return
to the native home
I have fear, however
that it doesn't recognize
nothing more
as himself
Perhaps the trip
terrifies me more
that to the father
therefore that he doesn't have fear
He was, after all
who made me learn
how to face the sea
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Ninho
Semana após semana
o espetáculo:
Vida
reencenar
As idiossincrasias,
as idiotices,
as esquisitices,
por que não?
Nossa covardia,
nossa imensa coragem.
Nossa ação,
nossa areia movediça.
Ser niilista,
ser quixote,
(ser artista,
ser filhote)
Rimar sem medo,
rir,
queixar-nos,
acarinhar,
doer
Roer o osso duro
como famintos
Lamber o caldo
no fundo da cuia
Comer o mingau
pelas beiradas
alimentar-nos
de luz
lua
fogo
Ambicionar:
amar.
Mais que amar:
voar.
Mais que voar,
perder-nos.
Mais que nos perder,
encontrar!
O ninho,
o céu,
o filho,
o breu.
O que vimos
de tão belo
no outro,
em nós.
Week after week
The spectacle:
Life
to replay
The idiosyncrasies
The idiocy
The odd
Why not?
Our cowardice
Our immense courage
Our action
Our immobility
Being nihilistic
Being Quixote
(Being artist
Being new)
To rhyme without fear
To laugh
To complain about,
To nurture another,
To hurt ourselves
To chew the hard bone
as hungry ones
To lick the soup
from the bowl's bottom
To eat the hot meal
by the outside
Feeding ourselves
with light,
moon,
fire
Ambitioning:
love
More than love
To fly
More than fly,
lost ourselves
more than lost,
Find somewhere,
The nest,
the sky,
the son,
the dark,
The beauty that we see
to another,
in Us
O niilismo - do latim nihil ("nada") é uma doutrina filosófica e política que prega a negação da ordem socialmente estabelecida e também da sua estética. Tem em Niestzche sua face mais conhecida.
Dom Quixote de La Mnacha é um dos grandes personagens da literatura mundial, do autor Miguel de Cervantes