segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Seu Zé tá pensando em boi...



O pai

se vai a cada dia
tentando entender
e ficar
aqui

A cada momento
escuta mais
seus sons interiores
sons antigos
de um tempo bom

O pai
cansou da lida
mas ainda resiste
buscando refúgio
nas mínimas coisas

Aprendeu
que é no trabalho que reside
a honra de um homem
que é assim que tem de ser

Um homem bom
de caráter firme
vive bem-humorado
mas luta contra o tempo

Contra o corpo
que já não o obedece
Contra a impossibilidade
de ser eterno

O pai perdeu, buscando,
alguns de seus muitos amigos,
seus ancestrais
mas mantém sua fé

O pai, que viu no caminho
a onça braba, cobra, sezão,
a fome, a seca, pilares e pedras
Hoje esconde as dores
pra que a gente não sofra

E apesar da rabugice
que se insinua
continua tentando
compreender

A cidade, a gente,
os adolescentes, o tempo,
a tecnologia, o silêncio,
sua sina, ganhos,
perdas

Meu sonho é levar
o pai de volta
ao lar natal
Tenho medo, porém
que ele não reconheça
nada mais de seu

Talvez a viagem
me apavore mais
que ao pai
pois que ele não tem medo

Foi ele
afinal
quem me ensinou
a enfrentar o mar

Seu Zé, José, o Zé Grande, tem mais amigos do que pode contar. É o vô que conserta tudo e que dirige como ninguém. É o homem que gosta de pescar, de estar em família e de cafuné. Que dá risada e procura um docinho depois do almoço. Que nos cobra sempre, fazer o que é certo. A benção, pai!
"Seu Zé tá pensando em boi" é uma frase da canção "Seo Zé", de Carlinhos Brown.

The father goes
each day
trying to understand
and to stay here
At each moment listening more
his interior sounds
old sounds of a good time

The father is tired
of the chore
but he still resists
searching shelter
in the minimum things

He learned
that it's in the work
that inhabits the honor of a man
that this is how it has to be

A good man of firm character
he lives well
but fights
against the time

Against the body
that already it does not obey him
Against the impossibility
of being perpetual

The father lost, searching for,
some of his many friends,
his ancestral ones
but he keeps his faith

The father, who saw in his way
the panther, diseases,the hunger,
dry soil, pillars and rocks
Today hide pains for us not to suffer

Although the bad humour
that sometimes come to him
continues trying
to understand

The city, the people,
the teenagers, the time,
the technology, silence,
his destiny, profits, losses

My dream is
to lead the father
in return
to the native home

I have fear, however
that it doesn't recognize
nothing more
as himself

Perhaps the trip
terrifies me more
that to the father
therefore that he doesn't have fear

He was, after all
who made me learn
how to face the sea

2 comentários:

Débora Kikuti - contadora de histórias disse...

Que bonito isso! Lembrei do meu pai. A gente sempre comenta como minha mãe parece com sua mãe e como meu pai parece com seu pai, né? Agora pareceu mais ainda...me deixou assim, com vontade de levar Seu Misael Modesto pra Campo Formoso, Bahia...Pra ver se ele reconhece tudo por lá e eu, vou junto, que ele me ensinou a voar!

Mary Flower disse...

É Dedé, não é por acaso que nos encontramos neste mundão: filhos que estão pais, pais que estão filhos, irmãos que estão amigos, por esta jornada afora, trocando de cadeira como criança brincando.
Inda tomo coragem e levo seu Zé passear.