sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Inverno na aldeia
As folhas não cessam de cair
Na Vila onde nasci
Medito enquanto varro
Folhas secas por aqui
Pra onde vão as folhas
Quem as leva, afinal?
Antigamente as queimava
No chão liso do quintal
A fumaça subia alto
Defumando tudo ao redor
Cheiro de folha, de mato
De aldeia, de pisadô
Os animais se afastavam
No monte, carvão e brasa
As crianças cutucavam
Vagalumes pelo ar
A fogueira era a extensão
Do fogão de lenha da Vó
Cheiro bom, casa quentinha
Sabão de cinza, sem pó
A brincar, fumávamos
pitos de palha, doces
A Vó se ria, cúmplice
Das nossas artes, das tosses
Também era Vó que ajudava
A criar nosso fogão
Com tijolos, galhos secos
Nossa cozinha no chão
Para onde foi a Vó,
como a fumaça, subindo?
Pra onde a nossa inocência,
Cachorros, terra, sumindo?
Hoje nada mais se pode
Nem fogaréu ou fogão
Nem pitar, brasa, fogueira
Nem inventar, nem balão
Quero um viver mais alegre
"Do que este que nos dão"
Brincar com água sem pressa
Fazer bolhas de sabão
De terra, água, ar e fogo
Nosso viver era feito
Quero que nossas crianças
Possam ter esse direito
Pra Vó Maria da Paz, minha saudade.
Luiz Gonzaga tocava no rádio: "Sala de Reboco", de onde vem a frase entre aspas.
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