quarta-feira, 27 de maio de 2009

memorando


Quando a tarde cai
Onde o meu pai
me fez e me criou
Ninguém vai saber
que dor me rói,
que foi
e aqui ficou...

Que foi feito de nós?
Os eleitos
escolhidos a dedo
pra revolver o mundo

Que é feito dos que
iam morrer aos 21
deixando o rastro de sua
meteórica passagem ?

A geração sanduíche
entre a ditadura e a AIDS
que amou colorido
apesar de todas as marcas?

Que enterrou seus mortos
de sexo, drogas e rock'n roll
na cova rasa dos indigentes
e cimentou a passagem
das hoje ilustres autoridades

O que foi feito, deverá?
As atrocidades, quem vê?
O choro doído, ninguém ouve?
Por detrás da escrivaninha, o paletó
Dentro do paletó, o silêncio.

O texto em itálico é um trecho de Santa Clara, padroeira da televisão, do álbum Circuladô de Fulô de Caetano Veloso.
Amizade colorida era uma expressão comum nos anos 80, significando relacionar-se sexualmente com amigos (as), independente de compromisso.
O que foi feito devera foi cantado por Elis no clássico Clube da Esquina. A imagem me lembra o mapa da América Latina.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O retrato do Artista


"O retrato do artista quando moço
não é promissora, cândida pintura
É a figura do larápio rastaquera
Numa foto que não era para a capa"

A idéia me veio

enquanto picava a escarola
uma vontade louca
de me intitular Artista
Dizer: _ Nós, os artistas...
como nunca ousei

Que artista é Chico Buarque,
E Adélia Prado, Manuel de Barros,
todos os mestres, sabedores
do ritmo que as palavras guardam,
de seus segredos...

Artistas da fome, Kafkas,
artistas do pincel
e da caneta tinteiro,
do carvão e do rio

Vontade de dizer à edilidade
umas verdades
De ser Artista e pronto
sem medo
Cantando e inventando
um novo bailado

_ A velhinha enlouqueceu!
_ A escarola vai queimar!
Eu, dançando, cantando
e pintando e bordando,
como querem Baco e Deus


O Retrato do Artista quando Coisa é o livro de Manuel de Barros, que abriu o jorro...
A foto da capa é a música de Chico Buarque que abre o texto e não me sai da cabeça... encontrada no álbum Paratodos.
O Artista da Fome é um livro de Kafka, que li faz muito tempo...

O Ale Artista fez uns desenhos duca com caneta tinteiro...
Escarola refogada com azeite, alho e tomate é bão demais, sô!