quinta-feira, 30 de abril de 2009

Verde


O sinal
luminoso
já não dá passagem

O silêncio impera
onde antes
a música se ouvia

O tímpano arde
com os sons urbanos

Repetidos,
repetidos

Já não se sabe
se ouviu ou não

Um grito
um sussurro,
um piado

Quer saber?
Só perguntando...

o máximo que se ganha
é o silêncio
ou um não.



A foto é do Cauê.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Exercício

O perdão bateu à porta
Abriu as comportas
cessou as intrigas

O perdão pediu passagem
a quem não pede desculpas
fez chorar, fez sentido,
fez refletir, o perdão

Derrubou o muro alto
que separava dois mundos
que isolava a palavra
e perpetuava o não

Desculpar é tarefa
para uma vida inteira
martelar o ferro em brasa
até domar a matéria

É exercício sem trégua
como o é pedir perdão
os dois lados envolvidos
sempre com suas razões

Nem vale fingir,
ignorar a dor funda
o perdão pede a verdade
sem a qual nada desperta

quem não perdoa, mata
o que em potencial
poderia ser, não é
mas tem chance, se puder

o perdão pediu licença
e desmanchou em água e sal
duas almas que se viram
sem parede, cerca ou não

sábado, 4 de abril de 2009

Xeque

The answer, my friend
is blowing in the wind
The answer is blowing in the wind

Respostas não são importantes
As perguntas são
São elas que destampam
silencio reprimido
mágoa acumulada
angústia recorrente

Perguntas curam
se verdadeiras
na hora certa, incisivas

Se a inspiração vem
do ar que respiramos
se a luz irradia
de um ponto entre os olhos
se a dor que machuca,
do centro do umbigo
e o amor que transborda,
do sangue que corre

as perguntas certas
hão de poder juntar
fora e dentro
conteúdo e continente

fazer da gente, galáxia
tornar-nos ao menos um segundo
unos
pra prosseguir, perguntando

O texto em itálico é da velha canção de Bob Dylan. A foto é do Cauê.